A fé cristã é movida acima de tudo pela esperança… Se acreditamos, não apenas em retórica, mas em espírito e verdade (Jo 4,23), que a Vida vence a morte (1Cor 15,55), também acreditaremos que é possível reconstruir nossa nação. Somos, acima de tudo, “semente teimosa!” Como cantam Vanessa da Mata e Chico César, seguimos, “equilibrando a lata vesga”, mesmo quando “a lata não mostra o corpo que entorta pra lata ficar reta e a força que nunca seca”. Nossa força e nossa esperança nunca secam!
O momento do país é um dos mais difíceis que nossa história conheceu. Não só pela forte crise econômica e social, mas principalmente pela descrença. Durante anos, as elites vêm fazendo com que o povo repita “o Brasil não tem jeito mesmo!”. A frase só interessa aos poderosos. Para nós, pessoas movidas pelo Espírito, outro Brasil é possível! Evidentemente, necessitaremos de muita resistência, aliada a muita paciência. Mas outro Brasil é possível. Para consolidar a democracia, precisamos acreditar.
É importante considerar que o espaço de tempo decorrido desde o final da ditadura civil-militar fruto do golpe de 1964 até o golpe de 2016 foi muito curto para que pudéssemos consolidar uma democracia mais sólida. Além disso, precisamos ter presentes dois fatores: em primeiro lugar, mesmo com o fim da ditadura formal, não conseguimos vencer a ditadura do capital (que tem a seu serviço a grande mídia); além disso, depois dos bons avanços que resultaram na constituição de 1988, ao disputar o Estado, muita gente se descuidou de algo fundamental: o trabalho de educação de base, a educação popular. O pouco conquistado nos governos Lula-Dilma foi muito, salvou milhares de vida, mudou muita coisa no país. Mas sempre soubemos que faltou um projeto mais ousado de educação sociotransformadora. A onda neoconservadora, presente inclusive em grandes parcelas das juventudes, ajuda a confirmar isso. E como não tivemos mudanças estruturais, as conquistas se perdem mais facilmente agora. A resistência popular é mais frágil, muita gente se confunde e passa a apoiar projetos autoritários, militarizantes e antievangélicos.
A Leitura Popular da Bíblia é nossa ferramenta permanente de educação e transformação de corações e consciências. Precisamos seguir nesse caminho, sabendo que receitas não existem. Não temos, neste momento, um projeto de nação consolidado. Precisaremos de tempo!
Aproximam-se mais uma vez as eleições. Jogo de cartas marcadas, ainda que de resultado incerto. No entanto, não caiamos no discurso de que não vale a pena votar. Eleições sempre tiveram seus limites. Estas ainda mais, porque, realizadas dentro de um golpe, não serão totalmente legítimas. Controladas com mais força pelo capital, serão conduzidas com a conivência de um mais do que corrompido, de um apodrecido poder judiciário. Mas não podemos abrir mão desse instrumento. Temos condições, por exemplo, de ampliar o número de senadores/as, deputados/as federais e estaduais comprometidos/as com as causas populares. Mas saibamos que a democracia representativa sempre será limitada e insuficiente, mesmo em sociedades mais estabilizadas e menos desiguais.
Alguns “alertas” devem seguir conosco, não apenas em tempos de eleição, mas sempre: não acreditemos em discursos ufanistas, de pessoas que se apresentem como “salvadoras da pátria”, principalmente se sua fala estimula preconceito, violência e racismo; e continuemos resistindo contra as forças conservadoras. Façamos também um esforço maior para nos desarmarmos, buscando superar todas as formas de ódio que as redes sociais tanto alimentam. Continuemos apostando nos processos de educação popular (não aquela que fazemos para os outros, mas a que fazemos juntas e juntos.
E, acima de tudo, continuemos sonhando, podemos reinventar nossa nação. Cecília Meireles já dizia: “a vida só é possível reinventada!”
Por Edmilson Schinelo
(secretário nacional de articulação e intercâmbio do Cebi Nacional e colaborador do CEBI, de Campo Grande/MS).
Publicado por Boletim do CEBI-GO – Ano 22 nº 120